quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Política, a feira carismática




O Homem político & o mundo

“Tão miticamente quanto o pensávamos, o contrato social marca o início das sociedades. Em função destas ou daquelas necessidades, alguns homens decidem, certo dia, viver em conjunto e se associam; desde então não sabemos mais passar uns sem os outros. Quando, como e porque esse contrato foi--ou não--assinado, não sabemos e, sem dúvida, nunca saberemos. Não importa.

...Imerso no contrato exclusivamente social, o político até esta manhã o subscreve e reescreve, faz com que seja observado, especialista unicamente em relações públicas e ciências sociais; eloqüente, até retórico, talvez até culto, conhecendo as entranhas, os corações e a dinâmica dos grupos, administrador, bom de mídia, essencialmente um jurista, ele mesmo produto do direito e produtor do direito: inútil tornar-se um físico...

...Tudo acaba de mudar. De agora em diante consideraremos inexata a palavra política, pois ela se refere apenas à cidade, aos espaços publicitários, à organização administrativa dos grupos. O que mora na cidade, antigamente chamado burguês, nada conhece do mundo. De agora em diante o governante deve abandonar as ciências humanas, as ruas e os muros da cidade, tornar-se físico, emergir do contrato social, inventar um novo contrato natural voltando a dar à palavra natureza o sentido original de condições em que nascemos—ou deveremos amanhã renascer."

....Ao contrário, o físico, no sentido grego mais antigo e também o mais moderno, aproxima-se da política.

Michel Serres, O Contrato Natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991


Saudações da pARTE do HeRo

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