quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Abrigo da miséria

"A violência funda toda a instituição.
Individual ou coletiva, a miséria mergulha os homens que ataca num estado limite em que a violência não conhece regras nem leis, em que não há quaisquer barreiras à sua propagação universal. Esta exclusão para fora da lei aproxima do risco máximo de eliminação ou de erradicação: excede o homicídio pois este último define-se segundo leis penais...e atinge o genocídio, pois trata-se, doravante, do gênero humano quase na sua totalidade...O pequeno número produz o grande que em contra-partida o condiciona; repete-se o mesmo esquema de antes. Produzimos a condição humana global, de que somos, pois, diretamente responsáveis. Dir-se-ia que o sujeito se perde nessa circularidade objetiva em que a fortuna provoca a miséria e o conhecimento a ignorância, que, no entanto, combate.
Quando falo dos mais fracos, falo também da fraqueza intelectual: como é possível que o tempo da ciência triunfante, das técnicas soberanas, das verdades geomediaticamente comunicadas tenha deixado degradar a esse ponto a instrução, afundar as culturas, deixar crescer tão fortemente a ignorância e a porcentagem de iletrados? Não é um paradoxo o fato de a comunicação --no espaço--falhar a transmissão através do tempo?
Michel Serres em ATLAS e Diálogo Sobre a Ciência, a Cultura e o Tempo
.





Desenho Instalação HeRo

Nenhum comentário: