quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Traiçoeira civilidade"


Hoje em dia, quando a educação mais elaborada e o gosto mais cultivado reduziram a um conjunto de regras a arte de agradar aos demais, nossa conduta é governada por uma servilidade baixa e enganosa, de modo que todo preceito de polidez exige constante obediência. As boas maneiras nos são ditas, e devemos sempre seguir seus comandos, nunca nossa própria natureza. Sob essa incessante restrição, já não ousamos parecer como de fato somos. Naquele rebanho de ovelhas a que chamamos sociedade, cada homem em situação semelhante faz exatamente as mesmas coisas que os outros.[...] Assim, não há mais nenhuma amizade sincera, nenhuma estima, nenhuma confiança segura. A suspeita, o ressentimento, o medo, a frieza, a reserva, o ódio e a traição estão sempre à espreita, ocultos por um véu de permanente e traiçoeira civilidade.
Os sentimentos estão sufocados pela tão admirada urbanidade que devemos ao esclarecimento deste século.


Rousseau (1750)

" Ou os homens estão sós, diante da natureza, sem grupo ou sociedade, ou eles passam a viver na política e, então, não há mais mundo"
Michel Serres Luzes

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