domingo, 30 de maio de 2010

A economia
"...A "pobreza" significa ganhar pouco; ao "indigente"  faltam víveres, alimentação, ele tem fome; enfim, o "miserável não tem casa, não tem domicílio. Esta gradação, pouco dinheiro, falta de alimentação, ausência de habitat, é uma gradação econômica. O termo economia, oikos em grego, quer dizer casa. Em consequência o miserável vive fora da economia, e se a economia é a lei do mundo, então o miserável vive fora do mundo...mas, além dessa degradação econômica, ele sofre de três males suplementares. Primeiro, sem medicina nem cuidados, ele sofre fisicamente, a dor cotidiana é o que lhe cabe, sua esperança de vida é bem mais baixa do que aquela dos ricos. Segundo, ele vive na violência, com menos proteção por parte das leis que os ricos tem. Enfim, também lhe falta  educação, cultura e ciência. Saúde do corpo; proteção frente à violência coletiva; acesso à formação...Subitamente, sofrendo ao mesmo tempo do corpo, da violência, e da falta de cultura, o miserável sofre, imensamente, de vergonha. Eis aí a exclusão extrema"
Michel Serres   Petites Chroniques du Dimanche Soir 1 France Info & Editions Le Pommier p. 158-159  2005 Paris
 
Saudações da pARTE do Hélio Rôla
 


Totalitarismo & democracia
"O curso espontâneo das transformações históricas de uma sociedade humana como uma unidade aponta para o totalitarismo; isto é assim porque as relações que produzem a estabilização histórica são aquelas que tem a ver com a estabilidade da sociedade como uma unidade em um meio dado, e não com o bem estar dos seus componentes humanos que podem operar como observadores. Qualquer outra trajetória requer um escolha ética; ela não será espontânea, ela será um trabalho de arte, um produto do projeto estético humano......Uma sociedade humana na qual ver todos os seres humanos como equivalentes a si próprio, e amá-los, é operacionalmente legitimado sem exigir dos seus integrantes subordinação da sua autonomia e individualidade além do que eles estariam dispostos a aceitar por si mesmos enquanto integrantes, é um produto da arte humana, isto é, uma sociedade artificial que admite trocas e aceita cada ser humano como não dispensável. Esta é necessariamente uma sociedade não hierárquica na qual todas as relações de ordem são constitutivamente transitórias e circunstanciais para a criação de relações que continuamente negam a institucionalização do abuso humano. Tal sociedade é na sua essência uma sociedade anarquista, uma sociedade feita para e por observadores que não submetem a sua condição de observadores enquanto clamam por liberdade social e respeito mútuo." Humberto Maturana
 
Saudações da pARTE do Hélio Rôla
imagem: desenho colagem sob influência da vida e arte mexicana

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Viva a biodiversidade


Viva a biodiversidade
Evite incêndio

 Da pARTE do Hélio Rôla
rolanet.blogspot.com
www.twitter.com/rolanet

Catástrofes nucleares da história


"A pedra azul"

Catástrofes nucleares da história

 "Cidade de Goiânia, Brasil, setembro de 1987: dois catadores de papel encontram um tubo de metal jogado num terreno baldio. O abrem a marteladas, descobrem uma pedra de luz azul. A pedra mágica transpira luz, azuleja o ar e tudo o que toca. Os catadores de papel quebram essa pedra de luz. Presenteiam os pedaços a seus vizinhos. Quem a esfrega na pele, brilha na noite. Todo o bairro é uma lâmpada. Os pobres, subitamente ricos de luz, estão em festa. No dia seguinte, os catadores de papel vomitam. Haviam comido manga com coco: Será por isso? Mas todo o bairro vomita, e todos incham e ardem. A luz azul queima e devora e mata; e se dissemina levada pelo vento, a chuva, as moscas e os pássaros. Foi uma das maiores catástrofes nucleares da história. Muitos morreram, e muitos mais ficaram incapacitados para sempre. Naquele bairro dos subúrbios de Goiânia ninguém sabia o que significava a palavra radioatividade, e ninguém jamais havia ouvido falar do césio 137. Chernobyl ressoa diariamente nas orelhas do mundo. De Goiânia, nunca mais se soube. Em 1992, Cuba recebeu as crianças enfermas de Goiânia, e lhes deu tratamento médico gratuito. Este fato tampouco teve a menor a menor repercussão, apesar de as fábricas universais de opinião pública estarem sempre, como se sabe, muito preocupadas com Cuba"
Um mês depois da tragédia, o chefe da polícia federal em Goiás, declarou: A situação é absurda. Não existe ninguém responsável pelo controle da radiatividade que se usa com fins medicinais.   
Texto extraído de EDUARDO GALEANO - Patas Arriba. Buenos Aires, Catálogos, 2009, p.194/95

Saudações da pARTE do Hélio Rôla

Ameaça nuclear saiba mais: http://www.fisica.net/denis/rad4.htm

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Diabomotivo

O Diabomotivo

Estudos para um Totem da Cultura
 ".O poder, refinadamente aparelhado pelo saber lança, para o controle de tudo e de todos, toda sua força - sem contra-poderes?- contra o mundo  num jogo em que o saber  sempre fica de fora. Que jogo seria  esse e por que o saber estaria sempre fora dele? Einstein sugeriu a feitura da bomba e depois se arrependeu...Mas, a bomba foi feita e duas delas foram lançadas  sobre Hiroshima e Nagasaki matando e milhares  de pessoas de todas as idades, na hora...Louis Fieser, um criativo químico  Harvardiano, por sua vez,  ficou surpreso ao saber em 1966? que o exército americano já tinha lançado sobre o povo vietnamita mais de 100 mil toneladas de "Napalm", uma invenção sua dos anos 40,  matando literalmente queimados milhares de civis inocentes, sem contar com a vida vegetal e animal ao largo, sem que ele tivesse conhecimento disso. É o que se diz.*..Mas, por que o saber, o poder em sua essência,  fica sempre de fora do jogo do poder? O melhor, me parece, é perguntar ao sociólogo Auguste Comte, é bem  possível que ele nos instrua sobre "la raison d'être" dessa curiosa indigência. Para ajudar na reflexão diz o filósofo Michel Serres que "não existe “ciência pura”, isenta das influências do Estado, da economia e da comunicação. Essas instâncias tem influência decisiva na produção e distribuição do saber" http://pt.shvoong.com/tags/michel-serres/
Saudações da pARTE do Hélio Rôla
 * The Social Responsibility of the scientist p.82 Edited by Martin Brown (1971) The Free Press  New York

REIZINHOS E SERVIDORES


Determinismo Estrutural



REIZINHOS E SERVIDORES

“Nosso futuro depende cada vez mais da pesquisa, nós nos tornaremos apenas aquilo que nossos sábios farão de nós. As ciências e as técnicas tomam o lugar do motor da história e da economia. Pela primeira vez nosso destino jaz em nossa razão. Engenheiros e cientistas têm a tendência, ainda, a se considerarem como fazendo parte de uma minoria, pois já conquistaram, pelo menos, o terceiro lugar num mundo novo onde eles partilham o poder com as mídias e a administração, três poderes sem contra poderes. A terceira detém a força performática da linguagem, aos segundos pertence sua sedução, a ciência guarda seu valor de verdade, a técnica o monopólio da eficácia......o aumento de poder da pesquisa e do desenvolvimento nos países avançados, a tecnicização refinada da vida cotidiana faz surgir coletivos novos ligados ao trabalho racional, que conhecem por sua vez os problemas usuais de toda a sociedade. Quando cresce a cidade sábia, ela se assemelha de modo crescente à própria cidade. De repente o mais moderno faz curto circuito com o bruto primitivo. Rivalidades, hierarquia, violência, reizinhos e servidores não se diferenciam da tribo na academia, da selva no laboratório”
Michel Serres- Statues - Editions François Bourin, 1989, Flammarion



domingo, 2 de maio de 2010

Duralex

Dura Lex
O morto espetacular na TV
Nossa violência arcaica e comum & nossos saberes
"Os campos de extermínio ou de trabalhos forçados, as prisões e favelas, o acúmulo de indivíduos em condições aviltantes revelam sem qualquer artifício a verdadeira realidade da condição humana: esse é o homem em sua condição de indivíduo anulado, ferido, aniquilado em sua essência...Somente o miserável conhece o verdadeiro homem. Além disso ele reconhece o nós por tê-lo observado de uma posição de inferioridade. O sociólogo conhece menos a miséria do que o miserável a sociologia"......Nossas novas capacidades de construção, de exploração, de destruição, aliadas ao crescimento do nosso número e à nossa violência arcaica e comum, nos trouxeram, hoje, a um ponto, para um pólo inesperado dos tempos onde esta eficácia recente de nossos saberes, de nossas técnicas, ou seja de nossos poderes, se reencontram e transformam o destino global dos humanos, a evolução das espécies vivas e o estado do planeta..." *
Para o melhor e para o pior? Cabe a pergunta, uma vez que a pobreza é quase-universal enquanto os ricos do mundo se contam nos dedos da mão...ouvi dizer.
*Michel Serres em O Incandescente Ed Bertrand Brasil e La Guerre Mondiale Ed. Le Pommier
Imagem pastel seco sobre papel
Saudações da pARTE do Hélio Rôla